Entidades de classe são contra e dizem que há desemprego no país.
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Em Minas, 60 mil profissionais estão fora do mercado, diz Crea |
A possível “importação” de engenheiros pelo Brasil, estudada pelo governo federal como uma alternativa para as futuras obras de infraestrutura no país, poderá elevar o nível de desemprego no segmento, realidade que começa a se intensificar neste ano, segundo as entidades de classe. Somente em Minas Gerais, cerca de 60 mil engenheiros civis estão fora do mercado, seja por falta de vagas ou de salários atraentes. Segundo empresários do ramo da construção civil, a atual demanda de obras não justifica uma contratação imediata mas, no máximo, uma substituição dos trabalhadores já contratados.
Essa vinda de estrangeiros para o país já está em estudo pela presidente Dilma Rousseff, assim como ocorreu com os profissionais da saúde, por meio do Programa Mais Médicos. O governo federal entende que essa seria uma forma de solucionar um dos entraves para que projetos importantes de infraestrutura saiam do papel. Ministros já estariam tentando convencer Dilma que trazer profissionais especializados de fora ajudaria os municípios a realizar projetos, que são necessários pra a liberação e o repasse de verbas federais.
“O governo vai trazer engenheiros de fora para quê? O que temos hoje no setor é desemprego. Uma forte crise nas consultorias e demissões. A própria construção civil, que passou por um boom, agora já desacelera investimentos e fecha postos de trabalho”, afirma o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-Minas), Jobson Andrade.
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Segundo o Crea-Minas hoje existem 1 milhão de profissionais no Brasil |
De acordo com dados do conselho, atualmente, existem cerca de 1 milhão de profissionais em atividade no Brasil, número que inclui técnicos e engenheiros de todas as áreas. Desse total, 150 mil atuam em Minas Gerais. O número de profissionais atuantes do Estado poderia ser dobrado, caso houvesse espaço para todos os graduados. Ou seja, 150 mil tiveram que partir para outras áreas, sendo 60 mil deles engenheiros civis.
Segundo Andrade, uma pesquisa realizada no Estado há dois anos estimava que, caso o Brasil crescesse em uma média de 4,5% ao ano, demoraria cerca de 10 anos para existir, de fato, um problema de mão de obra na área. Nesse período, daria para capacitar novos profissionais. Porém, como o país não cresceu tanto, o tempo em que vai demorar para chegar a escassez de engenheiros será ainda maior.
Para o diretor da área de conhecimento e educação continuada da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil), José Luiz Albertin, a opção de buscar novos profissionais no exterior seria danosa para a profissão no país. “Eu diria que o efeito mais esperado é o do colonizado, como o de costume. Os profissionais que chegarem de fora serão mais valorizados do que os do Brasil, já que eles vão chegar com uma formação diferenciada da existente internamente”, afirma.
O especialista qualifica a “importação” de engenheiros como um remendo capaz de remediar uma necessidade de mão de obra imediata. Porém, o investimento necessário na capacitação dos brasileiros, com implantação de novas tecnologias no ensino e melhoria da base escolar, será apenas adiado.
A visão negativa sobre o possível programa não vem apenas de representantes dos profissionais, por motivos corporativistas. Os empresários do ramo da construção civil, que poderiam se beneficiar com um maior número de profissionais, também não estão convencidos de que a chegada de estrangeiros poderia solucionar os problemas do setor.
“Nós temos engenheiros de sobra, o que faltam são obras. Ainda mais agora que as obras do governo federal não estão no ritmo esperado, as empresas estão é dispensando funcionários e não contratando”, afirma o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada no Estado de Minas Gerais (Sicepot-MG), Alberto Salum.
O economista e coordenador sindical do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon), Daniel Furletti, concorda. “ preciso primeiro haver uma sinalização de que haverá um aumento no número de obras a serem feitas. Nas condições atuais não precisa de reforço na mão de obra”, afirma.
Fonte: Diário do comércio