Em debate realizado na última terça-feira (5), em Brasília, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou três pesquisas que concluíram que não há o risco de um “apagão” generalizado de engenheiros no Brasil. Um dos estudos indica que, em termos quantitativos, estas pressões tendem a serem resolvidas com a ampliação da oferta de novos engenheiros, uma vez que os cursos da área voltaram a atrair os alunos.
Segundo o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Luiz Cláudio Costa, “ainda há o que fazer, mas estamos no caminho certo”. Por outro lado, os autores alertam para o fato de que a inexistência de gargalos não significa a falta da necessidade de ampliação dos investimentos no ensino de engenharia, particularmente nas universidades públicas.
Ao todo, o Brasil tem 18,8 ingressantes em engenharia para cada 10 mil habitantes – o número é acima da média de 15,3 dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Entretanto, o número total de matrículas de cursos de ensino superior ainda é a metade da média desses países – 44,5 para cada 10 mil habitantes no Brasil e 78,5 em média para cada 10 mil habitantes nos países da OCDE.
De autoria dos pesquisadores da Universidade de São Paulo Mario Sergio Salerno, Leonardo Melo Lins, Bruno Cesar Pino Oliveira de Araujo, Leonardo Augusto Vasconcelos Gomes, Demétrio Toledo e Paulo Meyer Nascimento, o texto “Uma proposta de sistematização do debate sobre falta de engenheiros no Brasil” ressalta que as vagas para engenheiros cresceram 85% em uma década, chegando a aproximadamente 230 mil profissionais. Em contrapartida, os engenheiros apresentam um percentual de ocupações típicas inferior às das outras profissões.
O artigo também apontou quatro dimensões que podem explicar a percepção de alguns agentes econômicos sobre escassez de mão de obra em engenharia: qualidade dos engenheiros formados, uma vez que a evolução na quantidade não foi acompanhada pela mesma evolução na qualidade; hiato geracional, o que dificulta a contratação de profissionais experientes para liderar projetos e obras; déficits em competências específicas e déficits em regiões localizadas.
Já o artigo “A Demanda por Engenheiros e Profissionais Afins no Mercado de Trabalho Formal”, de Aguinaldo Nogueira Maciente e Paulo A. Meyer M. Nascimento, conclui que “apesar das incertezas inerentes ao sistema econômico, o ritmo de expansão dos profissionais formados nas áreas de engenharia e profissões afins parece estar acompanhando adequadamente, pelo menos do ponto de vista quantitativo e mais geral, as tendências do mercado de trabalho”.
De acordo com os autores, a expectativa é de que até 2020 o número de engenheiros requeridos pelo mercado de trabalho formal atinja entre 600 mil e 1,15 milhão de profissionais. O artigo ainda mostra que entre 2000 e 2009, os setores que mais apresentaram elevação do salário pago a engenheiros foram os de cimento, álcool, artefatos de couro e calçados, serviços imobiliários e aluguel e construção.
Analisando a formação nas áreas de engenharia, o artigo “Evolução da Formação de Engenheiros e Profissionais Técnico-Científicos no Brasil entre 2000 e 2012”, de Divonzir Arthur Gusso e Paulo A. Meyer M. Nascimento, observa que as ofertas em engenharia encontraram sendas de expansão tanto no volume total de matrículas como no de conclusões de curso, além de passar por grande diversificação de habilitações e por um considerável aumento da participação do setor privado na área.
O Inep ainda divulgou no evento que planeja uma forma de acompanhamento dos estudantes concluintes de engenharias. A proposta ainda está em discussão.
Fonte: http://techne.pini.com.br