O plantio direto está no Brasil desde os anos 1960. Tendo inicialmente, três requisitos mínimos simples (não revolvimento do solo, rotação de culturas e uso de culturas de cobertura para formação de palhada), sua adoção pelos produtores parecia ser fácil. De fato, devido principalmente aos impactos conservacionistas e econômicos proporcionados, a área com essa forma de manejo cresceu rapidamente nos últimos trinta anos, atingindo cerca de 25 milhões de hectares no País. Curiosamente, ao longo da última década, áreas que utilizam o plantio direto têm apresentado erosão hídrica e quebra da estabilidade da produtividade, problemas que anteriormente só eram observados no plantio convencional.
Essa situação, que preocupa agricultores e técnicos, deveria estar também, na pauta de toda a sociedade, já que a qualidade do manejo das terras influencia um leque de serviços ecossistêmicos (que vão da disponibilidade de alimentos e água de boa qualidade até a beleza cênica natural). Neste cenário, produtores liderados pela Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha (FEBRAPDP) se juntaram a outras entidades, como a Itaipu Binacional e a Embrapa, para a busca de soluções.
A fim de descobrir se o manejo utilizado no plantio direto está sendo corretamente usado pelos produtores e também desenvolver ferramentas para a avaliação deste sistema tanto nas propriedades agrícolas como no âmbito da microbacia hidrográfica, a Embrapa Solos (Rio de Janeiro, RJ) articulou a formação de uma rede de pesquisa, a SoloVivo.
“Serão minuciosamente acompanhadas 12 pequenas bacias hidrográficas – nas quais o manejo é realizado predominantemente em plantio direto -, seis com bom manejo e outras seis com manejo inadequado, localizadas em cinco estados (GO, MS, PR, RS e SP), durante quatro anos. Índices que permitam a qualificação do manejo em propriedades e, também, no âmbito de microbacias, serão desenvolvidos e validados mediante o monitoramento contínuo de produção de sedimentos, vazão hídrica, solo, precipitação e os sistemas de produção”, diz o pesquisador da Embrapa Solos Luís Carlos Hernani.
Ao fim do projeto SoloVivo pretende-se ter, além de ferramentas para avaliar o desempenho técnico do manejo do solo e da água em unidades agrícolas e nas microbacias hidrográficas, recomendar para cada região a ser estudada, modelos ou arranjos de produção agropecuários, que atendam aos preceitos e consolidem o Sistema Plantio Direto (SPD) cuja conotação é mais ampla e completa do que o “cobrir com palha e plantar sem preparar o solo”, típico do plantio direto usual. Todas as ações e etapas de desenvolvimento e validação dos produtos do SoloVivo terão participação efetiva do agricultor que será o principal ator e agente gerador das mudanças necessárias à utilização plena do SPD e da valoração dos serviços ambientais produzidos por sua atividade econômica racionalmente conduzida.
“Além disso, esperamos construir competência conceitual e metodológica para orientar políticas de avaliação do desempenho ambiental na utilização das terras agrícolas bem como fomentar para que as ferramentas desenvolvidas no âmbito do SoloVivo sejam usadas como base de programas governamentais (a exemplo do Plano ABC) para incremento da adoção plena do SPD em até 10 milhões de hectares, nos próximos dez anos”, completa Hernani.
O SoloVivo, que inicia suas atividades em 2014, agrega 57 pesquisadores de 21 instituições. Os principais parceiros da Embrapa no SoloVivo são a Itaipu Binacional e a Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha.
Fonte: Embrapa